A concessão do Teatro Nacional D. Maria II à Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, no final de 1929, acompanhou a afirmação de um regime, instaurado três anos antes, que tinha com este teatro público uma relação ambígua. Que teatro, e que país, foram representados, como e com quem, antes e depois da revolução de 1974? Que país se pode ver a partir do Rossio, no palco do D. Maria II, nas suas presenças no território nacional, quando este permaneceu fechado e depois de recuperado?
Esta exposição, recuperando a relação da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro com o país, estabelece ligações entre a prática artística e o seu contexto político e social. As diferentes camadas de representação (do país, da sociedade, do teatro, dos regimes políticos), potenciam a perceção pública de uma certa ideia de (e para o) teatro nacional, tanto enquanto edifício, como na sua missão. Será um exercício de remontagem da história espelhada da ditadura e da democracia, a partir do papel, e
do modelo, que as instituições culturais e equipamentos de programação tiveram em Portugal.
Através de linhas temáticas comuns, são estabelecidas relações entre espetáculos distintos, propondo leituras que aprofundem a prática artística e a implementação de políticas, num trabalho que identifica princípios de resistência, mas também de participação nas atividades e ações dos regimes. A partir de materiais documentais – figurinos e trajes, fotografias, registos sonoros e audiovisuais, programas, objetos de cena, imprensa – , produz-se um comentário crítico à história social e política que o país construiu, observando a permeabilidade e a resistência do teatro a essas realidades.
A criação artística, tendo participado do processo de reconfiguração das identidades culturais do território, será objeto de análise retrospetiva de questões dominantes e atuais, inscrevendo e sublinhando o histórico do D. Maria II na transformação da perceção sobre a prática artística. Desse modo, "Quem és tu?" contribuirá para uma reflexão sobre a transformação de valores como a democratização, acessibilidade e coesão territorial e a forma como estes podem ser estruturantes para a criação artística.
No âmbito da exposição, serão ainda dinamizadas oficinas para escolas, debates e visitas orientadas, em vários concelhos do país.